O filme segue a missão
top secret do coronel Benjamin L. Willard (
Martin Sheen), encarregue de assassinar Kurt (
Brando), um coronel americano no Vietname que se refugiou no coração da selva cambodjiana, depois de endoidecer (assim contam os relatórios do exército), sendo adorado como um deus pelos nativos, que formam o seu exército particular. Willard começa na foz do imaginário rio Nung e, à medida que o filme progride, ele, juntamente com a sua reduzida equipa (todos ignorantes da verdadeira missão de Willard), vão mergulhando nas trevas, enfiando-se mais e mais terra adentro, rio adiante, numa descida ao abismo da loucura do homem e da guerra.
O FILME:
Hesito no que escreva: como fazer justiça ao que é, indubitavelmente, um dos maiores filmes do cinema? Se não está entre os meus favoritos, no pequeno
top7 na barra lateral do blogue, é porque me impûs o critério mentiroso de não repetir, nessa lista concisa, um único realizador, e Coppola já aparece aí representado pel'
O Padrinho (1972). Não fora isso, e
Apocalypse Now estaria sem dúvida naquele restrito panteão pessoal. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, a estória da produção do filme é tão mítica como o próprio, tendo dado a
um famoso documentário sobre o assunto.
Apocalypse Now é um livro que não cansa ler, onde se acha, a cada releitura, novos significados, novas camadas. Melhor filme de guerra de sempre que é simultaneamente melhor crítica à guerra, é uma viagem alucinante à loucura, ao homem animal, às trevas (um dos livros fundamentais para o argumento foi
O Coração das Trevas, de Conrad). Não se pode subestimar um filme destes, que tem aquela que, para mim, continua a ser a melhor cena de cinema de todo o sempre, exemplo perfeito do que eu chamo "montagem intelectual sonora" (perdoem o calão cinematográfico): a cavalgada das valquírias. Clássico consumado, Brando, a meu ver, chega a superar-se aqui, com o seu Kurtz a ultrapassar o seu Corleone (mas sei que a afirmação é altamente discutível). Coppola revela aqui toda a sua mestria enquanto escritor e realizador. Tão perfeito, meu Deus, tão perfeito. Condições ideias para ver o filme: noite de verão a ferver, depois da meia-noite, com princípios de febre.
O REALIZADOR:
Coppola é universalmente reconhecido como um dos maiores realizadores de todo o sempre. A sua carreira não é linear, mas o seu espírito é o mesmo, um espírito bom e simples, um visionário lutador, um homem criança com um olhar maduro (uma juventude sem juventude, para usar o título do seu último). Coppola faz parte daquela geração milagre do cinema americano nos anos 70, dos
movie brats, em que os estúdios se abriram a novas tendências, a jovens realizadores americanos influenciados pelo cinema europeu em ebulição (Spielberg, Lucas, Scorsese, Kubrick,
just to name a few). Coppola foi primeiro reconhecido como argumentista, tendo ganho o Óscar nessa categoria por ter escrito
Patton (1970). E depois aconteceu o milagre:
O Padrinho (1972). Como tanta confiança e liberdade foram postas num indivíduo quase desconhecido só pode, de facto, merecer o nome de milagre (e basta ver os extras do filme para se perceber que a coisa não foi fácil). Depois veio o
Padrinho II (1974), mas pelo meio ganhou a Palma de Ouro com
The Conversation (1974). Coppola rapidamente ganhou interesse pela produção, fundando a
Zoetrope, que lançou Lucas, com o seu
THX 1138 (essa obra-prima esquecida, em nada semelhante ao que Lucas faria depois). Coppola triunfaria de novo com
Apocalypse Now, arrecadando a Palma de Ouro. Em 1982, porém, Coppola cavou a sua cova, lançando
One From The Heart, um musical em que se investiu completamente. O filme foi um fracasso total e obrigou Coppola a realizar vários filmes durante as duas décadas seguintes para pagar as suas dívidas (são destas décadas que datam a maioria dos seus filmes ditos menores, ou mesmo fracos). Os anos 90, no entanto, veriam um certo ressurgir da sua popularidade, com o
Padrinho III (1990) e
Drácula (1992). Estes filmes salvaram-no da bancarrota. Muito recentemente realizou
Segunda Juventude (2007), um filme íntimo, independente e pessoal. Encontra-se de momento a trabalhar em
Tetro, com estreia prevista para 2009 e que se imagina um regresso às grandes sagas de família, com Buenos Aires como pano de fundo.
O TRAILER: